"O mais notável é a maneira como o Pedro Costa comunica com as pessoas"
Como se consegue ser produtor do nosso cineasta mais aclamado sem se viver do cinema?
Há dez anos que comecei a trabalhar com o Pedro Costa, foi com o Ne Change Rien, mas já antes tínhamos colaborado. Acompanho-o há muito. As câmaras que ele usou no Casa de Lava eram minhas. Lembro-me de que foram alugadas pelo produtor Paulo Branco. Além do mais, o Pedro sempre veio à loja e tornou-se amigo. Sempre foi alguém interessado pela tecnologia e ficava também a falar comigo sobre a vida. Foi No Quarto da Vanda que veio ter comigo, pois precisava de material para filmar num local escuro e pequeno. Naquela altura dei-lhe a conhecer uma câmara Panasonic que estava a sair e depois acompanhei-o muito nessa rodagem. Contava-me muito as histórias das vivências das Fontainhas. Era incrível, muitas vezes ele ia para lá filmar sozinho. Punha a câmara num saco e metia-se muito calmamente no autocarro até às Fonta-inhas. Por acaso, ainda guardo esse saco...
Mas o trabalho como produtor como é que surgiu?
Foi numa altura que ele viu o es-paço que tinha na Rua 1.º de Dezembro, a sede e armazém da OPTEC. Gostou daquele espaço e fez-me uma proposta de libertar aquilo tudo para se começar a trabalhar no Ne Change Rien. Dizia que se sentia bem connosco. Na altura, tínhamos feito o documentário As Operações SAAL e ajudado em meia dúzia de projetos. Enfim, sentiu que tinha o seu espaço e a sua liberdade.